Inspiração não é tendência: é estar aberto ao mundo
- Marilucia Dias

- 19 de nov.
- 2 min de leitura
Falar de inspiração é fácil. Difícil é sustentá-la todos os dias, quando o trabalho depende de prazos, clientes e telas que parecem nunca desligar. A verdade é que o designer gráfico vive cercado de estímulos, mas nem sempre de referências.

A diferença está em como ele observa o mundo. No Habitar dos Sentidos, mostra assinada pela Be Galeria, essa observação acontece de forma ampliada. A curadoria parte do espaço, e da materialidade. O resultado é uma narrativa visual coerente, que não se apoia em tendências, mas em percepções.
Essa postura é o que separa o design que comunica do design que apenas repete. Para quem vive do gráfico, a inspiração pode vir de qualquer lugar — de um ruído na fachada, de um tom de luz no fim da tarde, de uma etiqueta esquecida em um café.
São essas pequenas observações que constroem repertório. E repertório é o que alimenta o raciocínio visual. Um bom designer não precisa estar sempre buscando a próxima trend; ele precisa estar disponível para enxergar o que a maioria ignora. Essa abertura ao mundo é o que sustenta o pensamento criativo. Quando o olhar é treinado para ler forma, contraste, proporção e ritmo fora da tela, o cérebro começa a conectar informações de maneira mais rica. A textura de um tecido pode inspirar uma família tipográfica. A cadência de uma música pode sugerir uma hierarquia de layout. Tudo se transforma em linguagem quando o designer aprende a traduzir o cotidiano em código visual.
O Habitar dos Sentidos reforça essa ideia. Lá, a coerência estética não vem só de um manual de marca, mas de uma escuta atenta do espaço. Cada elemento tem função comunicativa: a cor, o vazio, o material, o enquadramento. É o mesmo processo que move o design gráfico quando é bem feito: interpretar contexto e devolver significado.
Inspiração, no fim, é repertório ativado. É a soma do que se vê, se lê, se toca e se vive. Por isso, estar inspirado não é um estado de espírito, é um hábito. Designers que entendem isso param de depender das redes para criar e começam a usar o mundo como biblioteca.



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