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Quando tudo parece já ter sido feito: qual o lugar do designer?

Nunca se produziu tanto conteúdo visual quanto agora. Em segundos, um scroll apresenta soluções de layout, paletas prontas, espaços decorados, frases bem diagramadas e identidades “com cara de tendência”. Com o volume vem o esgotamento. Tudo já parece ter sido feito e feito muitas vezes. E nesse cenário, onde a estética é replicada à exaustão e o design é consumido como produto visual pronto, surge a pergunta incômoda: qual o papel do designer?


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A resposta, talvez, não esteja em criar algo "nunca antes visto", mas em reafirmar a intenção como critério. Quando o novo já não é suficiente, o diferencial está em projetar com sentido não com pressa, nem por algoritmo, mas com escuta, com presença e com autoria real.


O esgotamento do visual replicável


A internet ensinou a todos a reconhecer um design “bonito”. O problema é que o reconhecimento virou repetição. O que antes era original agora é só fórmula. E o que deveria ser linguagem virou moldura: encaixável, segura, eficiente e vazia.


O excesso de referências, longe de ampliar o repertório, tem anestesiado o olhar. E isso se reflete na prática: projetos que começam pela referência do Pinterest, marcas que buscam “algo parecido com”, clientes que pedem o que já viralizou. O risco é claro: a perda da identidade, da autoria, do propósito.


É nesse vácuo que o designer precisa resistir. Recusar a repetição automática e sustentar processos que vão além da estética replicável. Projetar como tradução, não como imitação.



Reencontrar o lugar do processo

Criar em um mundo saturado exige mais do que técnica: exige profundidade. O lugar do designer hoje é menos o de "inventar algo novo" e mais o de cultivar sentido no que já existe. É interpretar, editar, filtrar. É sustentar a dúvida, valorizar o percurso e entender que a potência está nas escolhas inclusive nas que deixam de seguir a tendência.


Reencontrar o valor do processo é resgatar a escuta como parte do projeto. É se posicionar como quem conduz, traduz, discute e propõe. O design não nasce do resultado pronto, ele nasce da intenção que estrutura cada etapa. E essa intenção, por si só, já é um gesto autoral.



O que ainda não foi feito?

A pergunta inicial: o que ainda falta fazer? Talvez não tenha resposta clara. Mas talvez não precise. Porque o que ainda não foi feito não está no estilo ou na estética final. Está na forma como se escolhe, se conduz, se entrega. Está no que se sustenta quando o projeto sai do campo visual e entra na vida real.


A presença do designer está em decisões que não aparecem no feed: a escolha de uma textura que ativa a memória de alguém, o cuidado com o espaçamento de uma palavra que precisa ser lida com calma, o posicionamento de uma marca que carrega discurso.


O novo, hoje, talvez seja isso: um design que não grita. Que escuta. Que propõe. Que sustenta.



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