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Design como disputa de linguagem: quem tem o direito de construir visualidade?

Nem toda imagem é neutra. Nem todo projeto é só forma. Em cada escolha visual, por mais sutil que pareça, há um conjunto de códigos culturais, históricos e sociais que comunicam muito mais do que se vê. O design, nesse sentido, não é apenas uma ferramenta estética: é uma disputa de linguagem. Uma forma de dizer o que importa, de validar o que é belo, de excluir o que não se encaixa.


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Em um mercado saturado por fórmulas visuais replicáveis, é preciso olhar para o design como espaço de poder simbólico. Quem dita o que é sofisticado? Quem determina quais cores são “elegantes”? Quais materiais carregam status? Por que certas referências são vistas como legítimas e outras como “de mau gosto”? O que parece só uma escolha visual, muitas vezes, é a repetição inconsciente de uma lógica excludente.

Estética também é estrutura de poder


Projetar é organizar discurso. Toda estética é carregada de significado. Quando um layout é “clean”, quando um espaço é “neutro”, quando uma marca é “discreta”, há ali um posicionamento mesmo que negado. E quando essas escolhas se repetem sem reflexão, o que se constrói é uma hegemonia visual: uma ideia de bom gosto baseada em referências eurocentradas, minimalistas, elitizadas, brancas.


Essa estética dominante define o que vale e o que deve ser descartado. Ela marginaliza o que é popular, colorido, espontâneo, imperfeito, múltiplo. Silencia saberes visuais que vêm da oralidade, da ancestralidade, da periferia, da materialidade fora do padrão.


O problema não está em adotar um estilo está em projetar como se ele fosse universal.

A ilusão da neutralidade visual

Muitos profissionais ainda acreditam que design é técnica aplicada com precisão, repertório e senso estético. Mas raramente se pergunta de onde vem esse repertório. O que aprendemos a valorizar como “sofisticado” foi construído por uma cadeia de referências que já excluía muito desde o início.


Design não é neutro. Um projeto não nasce do nada. Ele carrega visão de mundo, repertório de classe, referência de grupo. Entender isso é reconhecer que projetar é também escolher o que se visibiliza e o que se apaga.


Nesse contexto, o designer não é só quem resolve um problema. É quem participa da construção simbólica do mundo. É quem decide quais linguagens podem existir ali.

A responsabilidade de projetar com escuta

Se todo projeto comunica, então todo projeto pode incluir ou excluir. Pode acolher ou afastar. Pode traduzir ou impor.


Tratar o design como disputa de linguagem é compreender que o papel do designer é menos o de “imprimir um estilo autoral” e mais o de traduzir com consciência. E essa tradução exige escuta. Exige deslocamento. Exige revisão de privilégios e abertura para narrativas visuais que não nascem nas grandes escolas, mas nas bordas, nas vivências, nos atravessamentos.


Projetar com responsabilidade é saber que o visual também educa. Que um projeto pode abrir espaço para existências outras ou reforçar o apagamento de sempre.

O design que queremos sustentar

Na Be Galeria, cada projeto nasce do encontro entre intenção, identidade e contexto. Acreditamos em uma estética que não se impõe, mas se constrói junto. Que não segue um molde, mas traduz modos de viver. E que reconhece no design não só a beleza da forma, mas a força simbólica da linguagem.



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